sábado, maio 08, 2004
Tenho vinte e muitos anos estou a meio da minha vida
e nada sei sobre o Guadalquivir.
Não sei das inundações arruinando searas
dos seus rápidos do infindável tráfego
que vai remando para jusante.
Histórico traiçoeiro rio
(será do Guadalquivir que falo?) muito dele tenho a aprender.
Uma manhã acordei sob estreita mão no meu ombro.
Que me queres? Queria conversar.
Que espécie de vida levas? Faço o que tenho a fazer.
Então fala-me do Guadalquivir.
Olhei apenas para as águas do rio (porque
me sentia tão só assim o cão de Francis Bacon
entre uma esquadria vermelha).
tenho muitos muitos anos e nunca estarei a meio da minha vida.
João Miguel Fernandes Jorge, “Turvos dizeres”, 1973