O avô cavernoso
Instituiu a chuva
Ratificou a demora
Persignou-se
Ninguém o chora agora
Perfumou-se
Vinte mil léguas de virgens vieram
Inúteis e despidas
Flores de malva
E a boina bem segura
Sobre a calva
Ao avô cavernoso quem viu a tonsura?
E a lenda dos milagres e a privada?
Na tenda que foi nítida conjura
As flores de malva murcham devagar
Devagar
Até que se ouvem gritos, matinadas
Realmente é uma pena termos de nos ficar pelas letras. Sempre que ouço este disco fico presa no "Avô Cavernoso". Repito. Repito. Repito. As palavras ao mesmo tempo, mas isso não é o mais importante. É o som disto. Os agudos disto. A forma como se alongam. As flores de malva murcham devagar/ De-va-gar. A voz de José Afonso, límpida. E o silêncio. Há poucas coisas tão bonitas.
posted by camponesa pragmática on 01:34