Porque é que o corpo não é um espelho da nossa alma?
Não é dos filmes mais conhecidos de David Lynch, digamos que ainda não tem a imagem de marca do realizador; não há símbolos ou enigmas para desvender, nem orelhas cortadas ou caixas azuis, e os anões que aparecem estão dentro do contexto, são apenas anões estravagantes de circo.
É uma história insólita realizada de forma clássica, lógica e sequencial, uma espécie de relatório clínico.
Filmado num rigoroso preto e branco, com actores exemplares, "O homem elefante" conta a triste história de Joseph Merrick, um homem que nasceu com o corpo deformado e foi andando de feira em feira, explorado por homens que exibiam a sua anormalidade de forma sórdida. Até que um dia um médico resolve aproximar-se de Merrick. Pretende estudar o seu caso e devolver-lhe a dignidade que ele merece. Compra-o e leva-o para o hospital. Tenta mostrar à sociedade que John Merrick não é um animal mas sim um homem. Juntos vão lutar contra a estupidez, a repulsa e os preconceitos. Mas é uma luta em vão. Merrick sofre então como nunca sofreu antes, este homem que tem um corpo que não corresponde à sua sensibilidade, este homem que é humano, tão profundamente humano.
É um dos meus filmes preferidos de Lynch. Gosto da sua austeridade formal e da forma como Merrick transborda de humanidade e de dor. Tocante e comovente.
O homem elefante de David Lynch no arte às 19h45 (repete de 7 de Junho às 23h15)