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Caminhar. Pernoitar à beira do leito dos rios do Inverno, onde flui o tempo. Acordar com a chuva no rosto. Ouvir ao longe o ladrar dos cães nos pequenos povoados ou, do alto das serras, o comboio a percorrer as terras baixas, no crepúsculo. Olhar os campos de cereais, sentir o cheiro do pão. Beber a água das fontes esparsas. Seguir os trilhos indeléveis da paisagem. Atravessar cidades e os olhares diferentes do nosso. Viver a exaustão de um cansaço extremo, o desalento, o imenso calor, o gelo e o medo. Sentir a solidão. Perder o Norte. Oferecer a dignidade de uma face despojada à força de uma estranha vitalidade avassaladora. Renascer, reinventar a nossa condição humana, sentir uma energia renovada e misteriosa que nos toma os passos.