Às vezes parece que as árvores têm braços ou que as núvens têm gente. Não têm; isso somos nós que nos assustamos por tudo e por nada, menos connosco. Ousemos o desamparo.
Se ouvirmos, só, estragamos pouco:
Lá longe existem, neste e em todos os momentos desde que existem, os Anéis de Saturno, a Magnetosfera de Júpiter, a da Ganymede de Galileo antes de qualquer um de nós; existe o Sol e existem Buracos Negros porque as coisas não começam nem acabam; Pulsares, restos cósmicos e um infinito - não interessam as teorias - Big Bang.
Aqui em cima sobrevivem florestas tropicais. Formam-se tempestades com que nem sonhamos. De vez em quando lembramo-nos do vento e do granizo. Não nos lembramos das monções, de tornados e furacões, nem da areia ou da neve pelos ares.
De lá de baixo ouve-se tudo, como sabemos desde que descobrimos a casa com a cabeça mergulhada na banheira: terramotos, vulcões, bolhas de ar, barcos e, ainda bem, outras coisas sem nome, coisas portanto.
Mas, lá em baixo, como aqui em cima e lá longe, nunca compreenderemos nada do que se passa. Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam, e elas nem sequer se chamam baleias.