Para o meu amigo Macguffinho, ele sabe porquê... ";O)
Lembro-me de, após uma palestra particularmente fastidiosa no Clube de Ciências Morais, Wittgenstein ter exclamado: “este género de coisa tem de acabar. Os maus filósofos são como senhorios de pardieiro. A minha função é acabar-lhes com o negócio” Maurice O’Connor Drury
O cerne da crítica de Popper era o seguinte: se Wittgenstein pretende recusar-se a aceitar uma pergunta da forma “pode alguma coisa ser vermelha e verde em toda a sua extensão?”, ele terá então de explicar com que fundamento o faz. Para diferenciarmos as proposições que são aceitáveis daquelas que o não são, precisamos de uma qualquer teoria do sentido. E isto tem de ser um problema, não um enigma.
A pretensão de Wittgenstein de que apenas existem enigmas é em si mesma uma pretensão filosófica, reivindica Popper. Esta pretensão poderá estar correcta, mas Wittgenstein tem de provar o seu ponto de vista, e não reclamá-lo. E, ao esforçar-se por o provar, ele será necessariamente arrastado para um debate em torno de um problema real— o problema da justificação da exacta posição ocupada pela sua fronteira entre o sentido e o não-sentido. Por isso, mesmo que a maior parte da filosofia trate de enigmas e não de problemas, tem de existir pelo menos um problema, ainda que todos os outros aparentes problemas não sejam mais do que enigmas.
Wittgenstein havia previsto esta objecção, mas a sua resposta foi ficar calado. Do mesmo modo que no Tractatus, a relação imagética entre a linguagem e o mundo não podia se exposta numa imagem, também tentar assinalar o limite entre o sentido e o não-sentido equivaleria a transgredir esse mesmo limite. “Acerca daquilo de que não se pode falar, tem de se ficar em silêncio.”
David Edmonds e John Eidinow, O Atiçador de Wittgenstein, Temas e Debates, Lisboa, 2003.
posted by zazie on 14:46