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Janela Indiscreta
 
sexta-feira, maio 07, 2004  

monticola solitarius
Já não me lembro em que estrada foi, distraí-me com o piano da Nina Simone e perdi o melro azul que esvoaçou mesmo à nossa frente.

a cisterna
A cisterna do Castelo de Marvão é enorme, escura e belíssima. Misturou-se às imagens dos meus filmes.

as pedras
Nas ruínas romanas de Torre de Palma as ervas e flores chegam aos joelhos. Havia um projecto para construir infra-estruturas de apoio mas a empresa que ganhou o concurso faliu e agora aquilo está quase abandonado. Um caminho mal sinalizado, construções feias e inacabadas; um senhor a remexer a terra, com um rádio portátil e um gato ao lado; e uma menina que faz de guia e vai apontando para as pedras escondidas pela vegetação. É tudo o que resta. Foi do vento nas ervas que mais gostei.

a estrada
A estrada mais bonita de toda a viagem acabou sem aviso. Sai de Serpa, em direcção ao Sul e devia chegar ao Pulo do Lobo mas ao fim de onze quilómetros foi tomada pela água e obrigou-nos a regressar. É estreita e quase não tem movimento (no percurso de ida e volta só nos cruzamos com um jipe). Uma ou outra curva e algumas lombas, como é habitual nesta zona do Alentejo. É ladeada por campos, árvores e muitos, muitos pássaros. Cheira bem. Imaginei que seria o paraíso para um ornitólogo. E depois de ver aquele campo de espigas luminosas e macias ondeando acreditei ainda em outras coisas.

o silêncio
Nas minas de São Domingos o silêncio parece uma ameaça. As paredes em ruínas, as cores metalizadas, a água contaminada. Só se ouvia um cão ao longe a ladrar. No entanto as cegonhas fazem ninhos e as flores voltam a crescer por ali.

os livros
Vemos, ouvimos e lemos: em Serpa encontrei “Os discípulos em Saïs” de Novalis (Fenda, colecção Cão Vagabundo) e umas “Cenas” muito engraçadas de Jacques Prévert (& etc).
Fonte de letras: na Rua das Flores em Montemor-O-Novo não resisti à “Rilkeana” Ana Hatherly (Assírio & Alvim).

posted by Anónimo on 17:20


 
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