Vim a Comala porque me disseram que cá vivia meu pai, um tal Pedro Páramo. Disse-mo minha mãe, e eu prometi-lhe que viria vê-lo quando ela morresse. Apertei-lhe as mãos em sinal de que o faria, pois ela estava a morrer e eu estava disposto a prometer-lhe tudo. «Não deixes de o ir visitar - recomendou-me. - Chama-se assim e assim. Tenho a certeza de que vai gostar de te conhecer.» Então não tive outro remédio senão dizer-lhe que o faria, e de tanto lho dizer, continuei a repeti-lo mesmo depois de ter conseguido libertar as minhas mãos das suas mãos mortas.
Antes, porém, dissera-me:
- Não vás pedir-lhe nada. Exige-lhe o que nos pertence. O que era obrigado a dar-me e nunca me deu... O esquecimento a que nos votou cobra-lho caro, meu filho.
- Esteja descansada, mãe.
Mas não pensei cumprir a minha promessa, até que, recentemente, a minha cabeça começou a povoar-se de sonhos, a dar livre curso às ilusões. E assim se foi formando um mundo em torno da esperança que era esse tal senhor chamado Pedro Páramo, marido de minha mãe. Por isso vim a Comala.
início de "Pedro Páramo" de Juan Rulfo, traduzido por António José Massano e editado pelas edições 70 (colecção Caligrafias) em 1988 - um presente ligeiramente atrasado