quinta-feira, dezembro 25, 2003
Há livros que nos perseguem
“Sicília” de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub é um dos meus filmes: visto, revisto, esquadrinhado, memorizado. Soube desde logo que tinha de ler o livro de Elio Vittorini, mas quando? Um dia descobri que estava traduzido para português e editado pela Cosac & Naify, do outro lado do Atlântico. Na terça-feira a Maria, vinda de umas férias de verão na Bahia, para além da pele morena e dos sorrisos trouxe-me o precioso livro e eu parto de novo para Sicília e troco as rabanadas e o bolo rei por arenque e um melão de inverno.
Infelizmente talvez “Conversa na Sicília” nunca seja editado no nosso país e nunca assim deste modo tão magnífico com estas belas fotografias, com este minucioso cuidado gráfico, e é pena.
Conversa na Sicília motivou um detalhado esquema de edição por parte da Cosac & Naify. Tudo começou no ano passado [2001], quando o escritor Valêncio Xavier sugeriu a publicação da obra, mas seguindo o mesmo formato original.
Ele utilizava uma edição de 1953, editada pela Bompiani, que hoje é rara até mesmo na Itália por um diferencial: o livro é ilustrado por 188 fotografias, feitas sob a rigorosa orientação do próprio Elio Vittorini e que traduzem seu lirismo siciliano. As edições atuais, por questões econômicas, simplesmente eliminaram as imagens. "São figuras vagas, com legendas imprecisas e que parecem trabalho de iniciante", comenta Xavier. "Mas é justamente esse seu principal encanto: apesar do tom nebuloso, elas não pretendem explicar o texto de Vittorini, mas elevá-lo à posição das grandes fantasias."
Há anos vivendo em Curitiba, Valêncio Xavier é apaixonado por Conversa na Sicília, chegando a recitar trechos inteiros, em sonoro italiano.
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