Ele aprendeu russo para descobrir o que acontecia aos lábios do menino num poema de Arsenii Tarkovski. Lera o poema em muitas versões, em muitas línguas, e depois ficou obcecado pela página de um livro, pelos caracteres que não conhecia e que de alguma forma tinha de desvelar. Deve tê-lo feito sozinho, comprou livros e dicionários, passou tardes inteiras no Cinema del Silenzio, vendo filmes de Andrei Tarkovski, e tempos depois fez a viagem à Rússia de que me falava de vez em quando, parecia só ter visto cúpulas de igrejas e neve, e livros, pequenas livrarias onde encontrara volumes estranhos, os que estão naquela estante. Foi também nessa viagem que comprou os ícones, a reprodução da Santíssima Trindade de Andrei Rubliev, que está no quarto da torre, e os dois mais pequenos, que me deu, os dois anjos, um vestido de verde, um de azul, os meus anjos.