O homem cansa-se de ser coisa, a coisa que serve sabendo-se coisa, coisa de silêncio em sua potência de impulso irado. A hombridade do homem, de muitos homens cansa-se atrozmente.
Já não podem parar-se as mãos sujas por dever e fortes. Muitos olhos - sem óculos - vêem ou entrevêem mais além, embora se inclinem para o chão e seus atoleiros de leis.
Máquina junto às máquinas, ou só na tempestade. Animal sob um sol de selva, ou numa selva urbaníssima. E as cores da pele cansam-se da sua cor.
As cores cansam-se de ser o branco, de ser o amarelo, de ser o negro: prostração. E milhões de milhões de fadigas chegam a formar, erguendo-se por fim, uma só figura.
Nem herói nem monstro. Uma figura humaníssima que violentamente tudo arrasta, destruindo e arrasando à maneira da Natureza com furor geológico - e mental. Mas não. É crise de História.
Crise que assombraria os próprios deuses se atentassem nos nossos lodos de arrabalde. Os arrabaldes vislumbrar-se-iam inundados e já arrebatados por marés com raiva de destino.
Esta vez desiquilibra-se o planeta. Sobre os magníficos precipitam-se as cores, e os sujeitos, um a um sujeitos, engrossam multidões que são, ai!, massas compactas.
Massas de homens que poderiam, um a um, ser homens. Homens como tu, leitor que lês, livre, envolto em teu domínio de pele, com um volume na mão, livre.
Deixa de ler, olha as cortinas da janela. Não, não as move a brisa. Respondem a isso tão fugaz que foi um movimento sísmico. Atenção: não anuncia mais que...
A ti também te anuncia a catástrofe das catástrofes? Terminará a escravidão? Haverá homens que não sejam coisas? Homens como tu, leitor, sentado na tua cadeira. Nada mais.