quinta-feira, dezembro 04, 2003
All about Lily Chou Chou
Atenção! Este não é um filme como os outros. Não é um filme que se vê como os outros... Este é um filme que se sente... Que nos vai envolvendo numa teia composta pela magnífica banda sonora, algures entre Debussy e a própria Lily Chou Chou (seja ela quem for), e pela beleza enebriante da fotografia que nos transporta para um estado de levitação interior só alcançado quando de facto somos confrontados com algo que nos é ao mesmo tempo próximo e inatingível.
Sem darmos por isso e sem percebermos muito bem como, somos transportados para aquele período da adolescência em que tudo é extremado ao máximo, em que nada parece ter um sentido e as coisas mais ínfimas assumem proporções astronómicas. Nessa altura, em que as trocas de olhares significam o mundo e um leve e ocasional roçar de mãos nos faz ruborizar, também os ódios, ciúmes e invejas nos podem fazer tomar atitudes de que mais tarde nos podemos envergonhar.
É nessa idade também que somos capazes de nos entregar de alma e coração a uma música, a um disco ou a uma banda musical (e a um filme, também? Ou só a actores?). Que ficamos obcecados. Que somos capazes de defender até á exaustão os nossos artistas preferidos contra as mais absurdas acusações. Mas em que não temos a coragem de dirigir uma palavra à razão da nossa obsessão, aquela rapariga ou rapaz que tanto julgamos amar mas que não nos liga nenhuma. É a altura em que começamos a prestar atenção às letras das músicas e que começamos a descobrir que existe mais alguém como nós. Parece até que quem escreveu aquelas palavras passa exactamente pelo mesmo que nós. Nessa altura dá-se um processo de descoberta intenso e esgotante. Isolamo-nos do mundo e passamos a viver para aquelas palavras que continuam a fazer todo o sentido e a dar-nos o sentido de tudo. É como se mais nada existisse à nossa volta...