segunda-feira, junho 30, 2003 Visita de turista (a propósito do texto de Bérnard da Costa que a Cristina deixou ontem)
Já tinha observado o fenómeno noutras ocasiões mas ficou-me gravada a fogo a imagem das visitas dos turistas à Sagrada Família. Saíam de táxis e ou de autocarros, normalmente em grupo, posavam para uma fotografia em frente a uma das fachadas (sobretudo, em frente à mais antiga) e iam-se embora. Ver a Sagrada Família era isto: fotografar-se a si mesmo em frente à atracção turística e ir embora, depressa que se faz tarde e é preciso tirar mais fotografias em frente a outros sítios. Uma tentativa de concretização do génio e da loucura de um homem, em construção há anos incontáveis; um gigantesco projecto em homenagem, entre todas as coisas, justamente, à fé: ver a Sagrada Família não é ver um sonho humano - é ver o sonho humano. Haverá poucos sítios que reúnam tanto da sublime e patética condição humana. E a visita dos turistas estava feita em cinco, dez, quinze minutos, no máximo, sem sequer se aproximarem das paredes, sem lhes ocorrer entrar.