segunda-feira, junho 16, 2003
Ofereceram o grandePicasso, da Taschen, a uma pessoa da minha família e, num dos últimos dias, durante a tarde, tive a oportunidade de o folhear tranquilamente, de uma ponta à outra. Tem este aspecto exterior
e contém duas partes: uma, reúne a obra de Picasso até 1936; a outra, reúne a obra de 1937 a 1973. Mostra quadros em abundância das várias fases do pintor. Muitos desses quadros não sãogurus de t-shirt. Os textos permitem-nos mergulhar quase ao centímetro em cada obra (sem o tom de espectáculo do Magic, Sex & Death... por isto, continuo a preferir ler livros!), tornando-a, por um lado, mais clara, por outro, maior e, por outro ainda, mais difícil de esquecer e ou de simplificar (não apenas mas, sobretudo, no concernente a quadros ameaçados por uma exposição quase exclusivamente peremptória). Não li o livro todo, infelizmente, mas penso deixar passar o estado de graça livresco*, para o tomar de empréstimo. Neste, como em qualquer livro de pintura, fundamental não é gostar mais ou menos do pintor, mas sim ter consciência da existência de um pensamento humano necessário e anterior à pintura, que a impôs... nesta perspectiva, parece-me, a visão em profundidade de um quadro de Picasso será uma leitura tão cativante como a de um romance de Dostoievsky.
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* Estado de graça livresco - Tempo em que um livro novo deve permanecer em casa do proprietário sem que os olhos de outra pessoa comecem a cobiçá-lo e sem que a voz, ávida, se permita formular um pedido de empréstimo. O estado de graça livresco tem um tempo variável, resultante (1) da relação que se tem com o proprietário do livro (estado de graça circunstancial), (2) do tempo que o dono do livro vai demorar a lê-lo (estado de graça subjectivo) e (3) de aspectos específicos do mesmo livro (estado de graça objectivo).
posted by camponesa pragmática on 10:25