Na quarta-feira peguei no “Casei com um comunista”, de Philip Roth (Edições D. Quixote) e fui para a Foz. O sol não estava demasiado quente e corria um vento fresquinho. Óptimo!
Escolhi a esplanada do Homem do Leme. É uma das mais antigas da Foz, não tem alumínios anodizados, nem cabos de aço, nem cadeiras espreguiçadeiras, nem música – características fundamentais de uma esplanada moderna.
Digamos que é uma esplanada pré-expo (conceito a desenvolver posteriormente) e é precisamente o seu anacronismo que me encanta. Antes da mudança de turno, o empregado (um senhor já com uma certa idade, de calças pretas e camisa branca) veio cobrar mas assegurou-me, olhando para o livro, que podia “ficar lá até às duas da manhã”
Os preços são os normais na linha frente ao mar. Um café e uma garrafa de água: dois euros.
Eu tinha começado a transpirar profusamente devido ao sol que me batia em cheio no rosto, devido à excitação de conhecer Iron Rinn e, agora, encontrando-me numa situação menos confortável, devido a ter de responder a Mr. Ringold como se estivesse na aula, apesar de estar sentado entre dois irmãos com mais de 1,85 m de altura e em tronco nu, dois homens enormes e genuínos que exsudavam o tipo de força máscula, inteligente e convicente a que eu aspirava. Homens que podiam falar de beisebol e de boxe enquanto falavam de livros. E que falavam de livros como se algo estivesse em jogo num livro. Não abriam um livro para o adorarem, para se sentirem elevados por ele ou para se envolverem nele a ponto de esquecerem o mundo em redor. Não, travavam um constante combate com o livro.
Casei com um comunista, de Philip Roth, página 40
(empréstimo da Biblioteca Almeida Garrett)