Uma das características que mais me fascina na internet é a criação de uma geografia diferente da real. Aproxima pessoas que estão afastadas no espaço mas que compartilham gostos e isso é ao mesmo tempo inesperado e bom.
Depois de termos chegado ao Brasil, pela mão do Paulinho Assunção e dos meus múltiplos heterónimos, eis que damos um pulo a Barcelona. O Alex Diaz vive lá e escreveu-nos um mail que muito nos encantou, muito obrigado Alex!
Mas hoje a surpresa ainda foi maior. Zoura Suleimanova é tchetchena, esteve uns tempos em Portugal onde conheceu a Janela e agora, que está de partida, escreveu-nos um mail comovente que não podemos deixar de publicar. Ficámos sem palavras. Gostávamos de te desejar boa sorte, de te dizer que as coisas vão mudar, mas parecem-nos tão distantes todas essas palavras. Fica apenas um abraço sincero, Zoura e a vontade de nos reencontrarmos um dia destes.
Vou-me embora mas não queria partir sem deixar um elogio sincero e algumas palavras.
No território tchetcheno está a dar-se um genocídio, o povo tchetcheno é massacrado diariamente, aquele lugar é um ghetto, ninguém pode entrar ou sair daquele inferno, e o mundo esqueceu os tchetchenos.
Nem depois da deportação em massa a 23 de Fevereiro de 1944 o mundo quis verdadeiramente olhar. Deixo aqui um poema, é um canto de séc.XIX que se tornou um texto identitário, hoje os tchetchenos consideram-no o Hino da Tchetchénia. Como é longo vou abreviar. Não quero aborrecer-vos por isso termino, não volto a Portugal e para onde vou não há internet mas se um dia puder a primeira coisa que faço se vocês ainda estiverem desse lado é procurar a Janela Indiscreta. Faço um pedido: Não esqueçam o povo tchetcheno.
Muito obrigada e muitas felicidades
HYMNE TCHÉTCHÈNE
La nuit où la louve mit bas
Nous sommes venus au monde.
Au matin, au rugissement du lion,
On nous donna nos noms.
(...)
Nos méres nous ont élevés
Pour notre peuple, notre terre.
A l'heure de la défaite
Nous nous sommes comportés en braves.
(...)
Faucons de montagne,
Nous avons été élevés libres.
Les difficultés, les malheures,
Nous les avons traversés en toute dignité.
(...)
Nous ne sommes laissé
Arrêter par personne.
La mort ou la liberté
Nous prendrons l'une des deux.
(...)
La nuit où la louve mit bas
Nous sommes venus au monde.
Nous sommes dévoués à Dieu,
À notre peuple et à notre terre.
Il n'est de dieu que dieu!