Brilhante. Foi a primeira palavra que me ocorreu enquanto passava o genérico final, depois de um epílogo sedutor e, no entanto, tão pouco repousante ("morreu" dizem duas personagens, em coro, sobre Arsinoé e é como se escondessem algo).
Mas voltemos ao início: quem é aquela personagem, aquele homem de rosto plácido, com um discurso que às vezes parece demasiado ingénuo, ou será exactamente o contrário? Estará ele a esconder uma árvore na floresta? Desarmante e vertiginoso, é assim o último filme de Eric Rohmer. Às vezes a verdade é tão inverosímil que podemos dizê-la pois ninguém acreditará, explica Fiodor em determinada altura. É esta a sua arma?
Rohmer narra a história com uma enorme delicadeza. Os longos diálogos que se desenrolam vão-nos introduzindo na trama, no que se passa fora de campo. É um filme de espiões sem acção, sem fugas nem disparos, tudo se passa em quartos e salas aconchegantes, entre duas chávenas de chá, como se se tratasse de um jogo de salão, uma partida de xadrez, em subtis variantes de campo / contracampo. Seguimos o percurso e, a cada nova sequência, duvidamos, como Arsinoé. Duvidamos de Fiodor, afinal quem é que ele apoia? Quem é ele? Como é que sabe certas coisas? Como é possível que seja General, tão novo? As malditas dúvidas instalam-se para sempre mas, no entanto, Arsinoé continua do seu lado. Será, no fundo, uma história de amor?
Os actores são excelentes, nos pequenos gestos, na contenção, na fluidez, e o filme é magnífico. A forma como Eric Rohmer incorpora as imagens de actualidades; o modo simples como, falando da pintura, ele fala das ideologias; tudo, tudo é justo e belo.
Uma história de espiões? Sim, mais o resto. E a História, o que é?
* Vê-se. O artigo de João Bénard da Costa de 13 de Agosto ainda está disponível. Para ler e guardar.