Gostei de ver um dos meus heróis na primeira página do Público de ontem, de corpo inteiro. De manhã, comentava isso aqui no escritório quando um colega mais novo, intrigado com tanto entusiasmo, me perguntou: mas afinal quem é o Corto Maltese?
Falei-lhe das aventuras do marinheiro, dos gatos de Veneza, dos oceanos e dos barcos, das reuniões secretas, das fugas, das belas mulheres, dos enigmas, de Jack London, do monge... Às tantas já nem dizia nada com sentido, limitava-me a sorrir. Não me fiz compreender, claro que não. Pediu-me provas. E eu sem saber que álbum escolher, a balada? a fábula? Samarcanda?
A primeira vez que me cruzei com Corto, nas revistas do Tintin do meu irmão, não lhe prestei atenção, era ainda tempo de heróis coloridos. Só alguns anos mais tarde cedi ao fascínio do marinheiro e deixei-me enredar, vezes sem conta, no belo traço preto de Hugo Pratt. Mais recentemente, em releituras, rendi-me aos encantos cínicos de Cush e agora até temo que, ao voltar de novo aos livros, ache o Raspoutine belo e irresistível. Isto explica-se?
Ah sim, para iniciar o Miguel, escolhi o Tango Argentino, com as enigmáticas duas luas... não interessa saber quem é o Corto Maltese.