A história não se desenrola
como uma cadeia
de anéis ininterrupta.
Em todo o caso
muitos anéis não prendem.
A história não contém
o antes e o depois,
nada que nela ronrone
a lume brando.
A história não é produzida
por quem a pensa nem
por quem a ignora. A história
não anda para a frente, obstina-se,
detesta o pouco a pouco, não progride
nem regride, muda de linha
e a sua direcção
não consta dos horários.
A história não justifica
e não deplora,
a história não é intínseca
porque está fora.
A história não ministra
carícias ou golpes de chicote.
A história não é mestre
de ninguém das nossas relações.
Tomar dela consciência não serve
para a tornar mais verdadeira e mais justa.
II
A história não é pois
a devastante escavadora de que se fala.
Deixa galerias, criptas, cavidades
e esconderijos. Há quem sobreviva.
A história é até benévola: destrói
tudo quanto pode: se exagerasse, é certo
seria melhor, mas a história tem falta
de notícias, não cumpre todas as suas vinganças.
A história arranha o fundo
como uma rede de arrasto
com alguns furos e escapam alguns peixes.
Às vezes encontra-se o ectoplasma
de um fugitivo e não parece particularmente feliz.
Ignora que está fora, ninguém lhe falou disso.
Os outros, presos nas redes, acham-se
mais livres do que ele.