Maldito vento, o Meltemi. Ontem fomos apanhados por um, um fenómeno inevitável nos mares estivais da Grécia, porque é uma coisa odiosa que sopra durante todo o mês de Julho e Agosto. Há uns anos, passei um Verão nas Cíclades, na Ilha de Paros, que é decerto a pousada preferida do Meltemi; raramente a deixa em paz, rodopiando sobre ela aos uivos como as vozes espectrais de marinheiros naufragados, séculos de marinheiros esmagados contra as suas rochas.
É um vento demoníaco, arrepiante, dá cabo dos nervos. E basta ver o que faz à economia, à dieta dos ilhéus; quando os pescadores não podem pescar, como acontece quando ruge o Meltemi, a ementa já bastante escassa de um ilhéu reduz-se a metade.
Abril é o melhor mês para cá vir: campos de flores selvagens, anémonas selvagens, violetas brancas, e a água verde como rebentos primaveris e à temperatura suficiente para um banho rápido. Abril... ou finais de Setembro, quando a água ainda está quente (se não nos importarmos de a partilhar com os gansos migratórios que mergulham abruptamente dos céus e nadam ao nosso lado), e o Meltemi já não nos assalta.
Mas até ontem nunca tinha sentido este vento no mar. Estava na coberta quando chegou e mesmo assim ouvi-lo aproximando-se pelo mar - um som sombrio e penugento riscando as ondas. O barco guinou, rodou, os peixes espreitaram pelas escotilhas; parecia que o mastro ia virar: estivemos na iminência de nos juntarmos ao coro de lamentações dos marinheiros náufragos! Amainou quando o sol se pôs e apressámo-nos a tomar refúgio na enseada.