quinta-feira, agosto 26, 2004 Um Homem: Klaus Klump excerto #2
A Natureza nunca toma partido e isso enoja-me. Alof não queria que hoje chovesse porque com a chuva era mais difícil descer à cidade e roubar: mas hoje chove.
Se vencermos os tanques depois viramo-nos para a natureza e disparamos.
Não acertavas, disse Klaus, a rir-se.
Um grande morcego ninguém viu, mas havia animais pretos que de noite provocavam acontecimentos.
Nunca percebi os animais. Alof bebe debaixo do céu preto: a cor verdadeira do céu é esta, hoje não tenho qualquer dúvida.
Alof vomitou, com o corpo sentado e a garganta inclinada sobre as ervas pretas de noite.
Recordo-me do barbeiro. Dizia que eu tinha um cabelo estúpido, que crescia pouco: não lhe dava rendimento.
Alof tinha acabado de vomitar, da sua boca vinha um cheiro nojento, Klaus ria-se:
É agora que te lembras do barbeiro.
Alof subitamente tirou uma flauta do balde preto.
Não vais tocar assim, a tua boca está nojenta.
Vou tocar assim, disse Alof. E pegou na flauta pela primeira vez desde há meses e a enojar-se do sabor da boca começou a tocar.
No final, virou-se e disse: Mozart.
Tens de lavar a boca, disse Klaus, vou buscar água.
Gonçalo M. Tavares Um Homem: Klaus Klump, Caminho, Outubro de 2003 - pp. 38-39.