quinta-feira, agosto 26, 2004 Um Homem: Klaus Klump
excerto #1
Um dia, Johana regressava da mercearia com três maçãs caríssimas, e escutou uma orquestra que no meio da rua interrompida, e quase vazia de pessoas, tocava músicas que ela não conhecia. Não havia palavras, mas a música não era do seu país. Esta música não é daqui, pensou Johana, e começou a correr muito, em direcção a casa, e enquanto corria, chorou.
A música é um sinal forte da humilhação. Se quem chegou impõe a sua música é porque o mundo mudou, e amanhã serás estrangeiro no sítio onde antes era a tua casa. Ocupam a tua casa quando põem outra música.
Cada povo tem direito à sua música e ao silêncio. Tem direito a decidir de que modo quer interromper o silêncio. Direito a escolher que sons quer: que palavra e que nota musical. Mas, repara: não há silêncios populares. Como isso assusta.
Gonçalo M. Tavares Um Homem: Klaus Klump, Caminho, Outubro de 2003 - pp. 25-26.