Já sabia ao que ia, já conheço o jeito do senhor Michael Moore. Masoquismo? Ontem à noite, coisa rara de se ver (aliás, pensando bem, nunca vista), a sala do Nun'Álvares estava completamente cheia. Passei os olhos pela assistência, tinham cara de quem se ia divertir um bom bocado e assim foi, houve um fartote de gargalhadas. Voltando ao que interessa, em termos cinematográficos o filme é mau, está ao nível dos piores realitys shows; Michael Moore brinca com a montagem e com o mau gosto, é boçal e arrivista.
Ao nível ético, bom, aí "Farenheit 9/11" é desprezível. Os assuntos que trata são graves e tristes e não podem, de modo algum, ser abordados com graçolas. A maneira como ele filma a transformação da sua vizinha de Flint é das coisas mais nojentas que já vi. No fim, algumas pessoas aplaudiram e eu não percebo, sinceramente não percebo, o que é que aplaudiram. Sobre George Bush, sobre os negócios por trás das guerras, sobre a crueldade humana, sobre tudo isso o filme não diz nada de novo. Os fins não justificam os meios. Isto não é um documentário. O Quentin Tarantino, em Cannes, estava a gozar connosco, só pode.
O que salvou a noite? O cartaz do "Triplo Agente", de Eric Rohmer, prometido para 26 de Agosto e a apresentação de "O Regresso" de Andrei Zvyagintsev.