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Janela Indiscreta
 
segunda-feira, agosto 16, 2004  

conselhos sexuais e gastronómicos a um príncipe.

Consta que ainda no século XVIII se citava o exemplo do castor, como prudência abstémica e casta que todo o príncipe e senhor de Estado deveria usar na subjugação dos instintos.

A ideia provinha de uma velha lenda já contada por Plínio, Juvenal e Cícero, que acabou cristianizada e transformada em exemplum medieval muito divulgado nos bestiários, em particular no Physiologus e noutras alegorias morais.
Baseava-se na crença que os castores possuíam umas bolsas nos testículos cujo conteúdo era altamente cobiçado pelos poderes medicinais.
Segundo a lenda, o animal, ao sentir-se perseguido pelos caçadores, preferia arrancar com os próprios dentes os apêndices sexuais, salvando assim a vida a troco da perca da possibilidade da luxúria.
Em virtude do sacrifício carnal, o castor passa a associar-se a Cristo que também sacrificou a carne pela salvação das nossas almas.

Konrad von Wurzburg (1225-1287), grande teórico poeta inovador germânico também parece ter sido pessoa com visão de Estado, pois aproveitou a fábula para recomendar aos príncipes a prudência do castor.






sacrifício do castor, Bestiário de Aberdeen







castor preparando-se para arrancar os testículos, cadeiral de Les Andelys, Eure. França.



Outra lenda muito divertida era a da árvore dos gansos barnacles. Acreditava-se que existia uma árvore que flutuava na água que dava uns frutos em forma de cápsula de onde saíam gansos barnacles que assim viviam pendurados dos ramos pelo bico. O fenómeno vegetal servia como exemplo para convencer os judeus da imaculada concepção da Virgem.

Estes animais-planta eram também muito cobiçados para o período do jejum pascal e aconselhava-se os religiosos a comerem os bicharocos pois, como eram totalmente vegetais, a sua ingestão precavia qualquer ente dado à lascívia de cair em pecado carnal.
...Como diria o exótico pedinte do metro Lisboeta: "uma alimentação racional e equilibrada é o essencial"....

Neste caso, por muito que Alberto Magno tenha negado a sua veracidade, os herbanários do século XVII ainda a divulgavam como verídica e acabou transformada nas cracas, uma categoria de saborosos cetáceos, perdendo por completo a medieva vocação macrobiótica e abstémica.






árvore dos gansos banacles. Iluminura medieval.







um par de gansos barnacles presos a uma serpente. Associados a Adão, pois tal como ele, estes animais foram gerados fora da terra. Kilpeck.







gansos barnacles? Claustro mosteiro de S. Domingos de Guimarães.



posted by zazie on 02:19


 
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