Hoje de manhã, em frente a um daqueles espelhos acastanhados, esguios, em ângulo de noventa graus, que se escondem junto às árvores, em Serralves, não me reconheci. Parecia uma personagem e não uma pessoa, a minha. Não era eu, é o que quero dizer. A t-shirt era mais eu do que eu.
Fui ao médico, Freud, claro, e ele disse-me que se tratava de um caso de dislexia visual, distúrbio também conhecido por "fase godardiana". "Não é grave", explicou.
Recomendações? "Não ir ao cinema durante quinze dias (nem sequer reproduções em casa); não ler livros (esqueça a Sontag) nem blogs; ver, pelo menos, uma hora de televisão por dia; e em breve volta ao normal".
"Não é que isso seja bom", acrescentou, com um riso sarcástico. Saí, sem pagar a conta. Vou procurar a "Capitale de La Douleur".
O papel em branco é o único espelho do homem, Jean-Luc Godard em JGL/JGL