A multidão invadira a praça, rodeando a estátua que lá em cima apontava, imperativa, a grande glória da pátria.
Espezinhando canteiros, inundando ruas adjacentes, vociferante. A manifestação.
Os gritos indicados. Guinchos. Várias crianças à procura da mãe ou do pai.
Era o apoio. Incondicional, ininterrupto, ao primeiro-ministro.
Ali, na praça enorme e paciente.
O primeiro-ministro olhou por uma das janelas, no terceiro andar antiquíssimo do Paço Ministerial. Sorriu levemente. Apalpou a cara, passou uma das mãos pela lapela do casaco, numa carícia inconsciente. Acenou com a cabeça, discreto, um pouco irónico, ao ministério perfilado no fundo da Sala dos Actos.
Dirigiu-se à varanda alta, sobre a praça apopléctica.
Abriu a janela num gesto amplo e paternal e deu um passo em frente.
Ouviu-se um som murcho e abafado, uma espécie de paff das bandas desenhadas, lá em baixo, no empedrado decorativo que circundava o Paço.
Alguém tirara a varanda. Toda.