"O Idiota", "Os irmãs Karamazov" ou qualquer outro calhamaço de Dostoiévski, nas recentes traduções de Nina e Filipe Guerra para a Presença. Porque sim.
Se vai para fora, substitua os mapas pelos livros de Henri Michaux. Qualquer um serve. Se se perder, não faz mal, era essa a intenção.
Para quem viaja de bicicleta, recomendamos os seis Livrinhos de Teatro já editados. Cabem no cesto e ainda sobra muito espaço.
Se pretende ler muitos autores mas não tem tempo, basta levar na mala a "Biblioteca" de Gonçalo M. Tavares. Estão lá todos, até o nosso querido Michaux e podemos confirmar que aquele retrato da página setenta e quatro é a sua cara chapada.
"Esculpir o tempo", de Andrei Tarkovsky. Há uma edição brasileira, da Martins Fontes, disponível no mercado. Sobre este livro não é preciso dizer mais nada.
Para os melómanos nada melhor que Thomas Bernhard. Aconselhamos a leitura em voz alta, a menos que se encontre na Austria.
A obra completa de Albert Cossery. Se as férias não chegarem para os oito livros mais a entrevista, todos editados pela Antígona, despeça-se. Tem nas suas mãos tudo o que precisa para o fazer com a necessária altivez.
Se não tem dinheiro para sair de casa o melhor é entreter-se e passear com o Robert Walser no quintal. Pelo sim pelo não, troque a caneta pelo lápis, habitue-se ao sistema.
Entre na livraria e procure os livros de capa macia da Cavalo de Ferro. Depois tire meia dúzia à sorte. Se fizer batota e entreabrir os olhos para o Roberto Arlt ninguém vai reparar.
Só tem uma tarde disponível para a leitura? Então recomendamos "As dioptrias de Elisa", de António Gancho. Para ler na esplanada. Se estiver em Évora, pode fazer o circuito da história.
Se nunca leu, é chegada a hora: "Clepsidra" de Camilo Pessanha. Há muitas edições disponíveis, escolha a capa mais bonita e descubra um dos mais belos poemas escritos em português:
Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina...
- Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!
Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor-de-rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.
E a vista sonda, reconstrui, compara.
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
- Ó fúlgida visão, linda mentira!
Róseas unhinhas que a maré partira...
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...