Yann Kersalé - Eu tinha vontade de trabalhar sobre o espaço geral da cidade. Para a primeira edição da Luzboa, eu gostava de fazer qualquer coisa em que toda a cidade participasse e que fosse perceptível um pouco por todo o lado. Não tinha vontade de me fixar num sítio ou num objecto específico, nem com certeza no bonito monumento. Então vou trabalhar com os eléctricos. Vou cobri-los com uma espécia de saia luminosa, um drapeado, uma caparaça, se quiser. Eu pensei na lagosta. Os eléctricos são um bocado como as lagostas; num determinado momento eles ficam todos em fila porque um se avariou ou porque alguém estacionou, e depois sobem, lentamente, una atrás dos outros. E as lagostas, na altura da reprodução, partem em migração formando uma espécie de caravana subindo para os altos fundos. Em Lisboa, partem do rio e depois sobem. Pois bem, à parte de eles também terem antenas, a alegoria à lagosta pára aqui. Eu não tenho intenção de os mascarar de lagosta, mas tem piada, e eu penso que isto vai resultar. Enfim, eu espero. Há sempre o problema do dinheiro e do tempo. Vou fazer isto com uns estudantes de design. Acho que vai correr tudo bem. Mas depende também dos responsáveis da Carris, é preciso que eles aceitem, é preciso pensar nos problemas técnicos, fazer um protótipo...
Portanto, se tudo correr bem, todas as noitas durante a Luzboa todos os eléctricos luminosos vão subir toda a cidade. Eu insisti bastante com os responsáveis da Carris, disse-lhes que isto só funcionaria se houvesse muitos eléctricos, se for apenas um a passear então não serve de nada, torna-se num gadget. Vou pôr-lhes uma rede de LED, que vamos trabalhar, e serão 12 ou 14 por eléctrico. Começa a ser muito, mas é importante que fique carregado, senão não funciona. É preciso que todos os eléctricos fiquem equipados assim. Ainda não está tudo conseguido junto dos responsáveis da Carris, mas espero que compreendam bem e aceitem. Aqui também é uma questão de escala, a escala do sítio, o que quer dizer toda a cidade. Como abranger toda a cidade simplesmente com esta coisa que não pára de mexer? Se eles não forem todos assim, não serve de nada. Vai ser anedótico se só existir um.
Yann Kersalé entrevistado pela revista Arquitectura e Vida #50, Junho 2004