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Janela Indiscreta
 
sábado, junho 12, 2004  

As óperas da bicharada.



Em 83, por encomenda de Moira Nelly, Paula Rego realiza, em dois meses a série Óperas para a exposição "Eight for Eighties". Pintadas a acrílico em telas de grandes dimensões, de pincelada rápida e livre das mutilações das anteriores colagens, as óperas mostram-nos um mundo agitadíssimo de personagens entre o humano e o bestiário, em ritmos livres, de humor e crueldade encenando a tragédia e recriando-a na migração de bicharocos e historietas de outras obras.
As figuras repartem-se em bandas de diferentes proporções, utilizando uma série de duplos que coincidem com alguns dos duetos operáticos. Em redor deles desenvolvem-se outros tantos duelos de tirania mútua entre bicharocos predadores e os que já nasceram para serem vítimas. As bandas laterais, desenhadas na vertical, à semelhança de fotogramas de cinema, parecem ter o papel do coro da tragédia grega, anunciando os momentos fatídicos, ou as aberturas e andamentos musicais.
Nota-se o gosto infantil pela teatralidade imponente do espectáculo que tanto seduziu a artista na adolescência. Sentimos que espreita este mundo convencional do lado dos bastidores, usando a artificialidade da tragédia cantada para a subverter em jogos zoomórficos. Colocando as máscaras em pictogramas que tanto lembram a cerâmica clássica com os seus fundos ocres como no caos sem perspectiva se aproximam do mundo das iluminuras medievais. As máscaras ainda não tinham caído-a comédia humana desenrolava-se na tela numa parafernália de visões em rodopio, tendendo para um centro da apoteose final.


La Bohème, acrílico/papel, 240x203 com, n. s.n. dat.,col. da artista.

Puccini compôs esta ópera em 1896, instituindo o estilo verista com uma multiplicidade de personagens e tom coloquial que, apesar da curta duração virá a ter grande influência na moderna ópera italiana e até em alguma contemporânea.
O tema baseia-se nas Cenas de Vida Boémia de Henri Murger, relatando os amores e fatalidades de um grupo de artistas parisienses.

Os artistas marginais, depois de estragarem os sonhos paternos, sofrem privações. Nas águas furtadas que habitam em comum, O pintor Marcelo e o seu amigo Rodolfo que abandonara os negócios de família para se dedicar à poesia, decidem queimar a mobília e sacrificar alguns pergaminhos para se aquecerem na noite de Natal.



Musetta, a noiva, aqui de tacões altos e ar de striper tem a consciência dividida e parece anunciar uma recusa ao burguês barrigudo.





O implacável senhorio que nem na santa noite esqueceu as dívidas, acaba por se aquecer ao lado dos artistas sem tirar a cartola da cabeça.





Na cena central, Mimi, a tísica costureirinha, deixa-se seduzir por Rodolfo.



Che gelida manina!
Se la lasci riscaldar...


Mi chiamano Mimi
ed il perché non so
Sola mi fo...
Vivo sola, soletta
Nella mia cameretta




O amor predador vai tendo ecos na tela...



A violência e humilhação andam a par da tragédia da frágil Mimi



Um homem amarelo lembra o "macaco a quem a mulher cortou o rabo" de outras histórias da pintora.

Em escala muito reduzida uma miríade de figuras vagueia por entre os corpos dos personagens da cena central de sedução. Paris da vida boémia transforma-se neste mural de "banda desenhada" de traço rápido e firme.



As figuras arrastam-se umas às outras, como ondas repercussão de um mundo às avessas. Um homem é arrastado por um cão; uma mulher puxa pela trela um cão/gato que lhe resiste; outra passeia um porco nas mesmas condições. Um passaroco autoritário ameaça uma sevilhana (Cármen?) com uma pistola, perante a indiferença de um cavalo que se entrega à leitura. É dia de festa. A banda sai à rua comandado pelo toque dos tambores.



Ecco il tamburo maggior
La ritirata e qua!


A banda passa e o drama adensa-se. Mimi julga-se amada por Rodolfo depois do poeta lhe ter oferecido uma touca cor-de-rosa, mas Rodolfo afasta-se ao saber que ela está doente...



Mimi tem ciúmes e agarra-se a Rodolfo, suplicando que não a deixe. No lado direito da tela Rodolfo, transformado em gato tigrado, vira-lhe a cara e recua.



Io t'amo io t'amo, io sono tutta, tua!
Ci lasciereme alla stagion dei fior!


Na banda lateral assistimos ao ataque de tosse de Mimi que lhe anuncia a tuberculose fatal.



Nas bandas inferiores a marginalia imita o tom do drama central. Uma cena da vida doméstica e agradável à refeição descamba numa intriga entre uma centopeia e outro bicharoco, enquanto os castores (da revista Castor onde escrevia Rodolfo) vão escavando túneis.





Um homem parece ter caído nas profundezas da tela; por cima desta banda negra de humilhações desenrola-se uma estranha cena de negócio e disputa-o financeiro Tio Sam discute com o castor em cima de um homem nu que faz de mesa.





Afastamo-nos da tela e as imagens alteram-se e misturam-se num carrossel de leituras sem chave e sem desfechos.
Como disse Paula Rego, "estes bichos não têm culpa. Eu limito-me a mostrar o que acontece, não sei o que se passa depois, isso é lá com eles e com os pais. A moral não é para mim...".


Mimi ....................................... Maria Callas
Rodolfo .................................... Giuseppe di Stefano
Marcello ................................... Rolando Panerai
Schaunard .................................. Manuel Sapatafora
Colline .................................... Nicola Zaccaria
Alcindoro .................................. Carlo Badioli

Orchestra e Coro del Teatro alla Scala, Milano
Direcção.. Antonino Votto
EMI, 1998.


posted by zazie on 02:56


 
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