Se quisesse visitar o sítio onde nasci, teria de apanhar um barco, viajar através das águas, e olhar para o fundo
[...]
Schrader: Pensa, em termos temáticos ou visuais antes de pensar no filme? Para si, onde é que tudo começa?
Sokurov: Em nenhum desses lados. Parto dos sentimentos, e penso que o que sempre me interessa são esses sentimentos que apenas uma pessoas espiritual poderia experimentar: os sentimentos de despedida e de separação. Penso que o drama da morte é o drama da separação
Schrader: Na arte japonesa existe o conceito de mono no aware, doce tristeza, o prazer do fim, do outono e de ver uma folha morta.
Sokurov: Mas para a Rússia, a doce tristeza e as despedidas agradáveis não são possíveis. Pelo contrário, o sentido russo de elegia é um sentimento muito fundo e vertical, não é um sentimento agradável. Atinge-nos profundamente, aguçadamente, dolorosamente. É uma coisa maciça.
[...]
Alexander Sokurov, entrevistado por Paul Schrader em 3 de Setembro de 1997
Tradução de Marta Amaral, Catálogo da Cinemateca Portuguesa dedicado a Alexander Sokurov, 1999
posted by Anónimo on 11:09