Rui Chafes, um desenho que chegou pelo correio do Faial
O desenho,
quando chegou à portaria da estalagem
parecia ter vindo sobre a transparência
das águas. A chuva
da manhã molhara o envelope. Mal
se podia ler o meu nome; um ténue
borrão azul. O desenho,
uma árvore vista a partir do interior
com o tronco, os ramos brancos e as folhas
sobre enroladas, quase o corte de
um órgão do corpo humano —
o útero, o coração, os testículos. O
contorno de um rosto, o lápis
tornou-o mais vivo. A paisagem
botânica domina um horizonte vazio. Grãos
de sementes têm a mesma matéria das colinas;
e as plantas, terra e carne.
Algumas dessas vidas vegetais
fazem amor ou esperam vir a foder. Comparado
com o tão leve traço
que esforço e inútil escrever um só verso.