O canalizador ficou em minha casa quarenta e nove horas a fio, mas o trabalho estava longe de terminar. Numa altura em que eu passava no vestíbulo, para ir à cozinha, ouvi alguém bater à porta.
– Abra!... – diziam. – É urgente!...
Abri e à minha frente estava a vizinha de cima, vestida de luto pesado. No rosto trazia marcas de um desgosto recente, toda ela a escorrer para cima do tapete. Parecia saída do Sena.
– Caiu na água? – perguntei, interessado.
– Desculpe-me incomodá-lo, mas tenho uma ruptura lá em casa... Há três dias que chamei o canalizador.
– Anda cá um. – respondi. – Talvez seja o seu.
– Os meus sete filhos afogaram-se – explicou. – Nesta altura os dois mais velhos ainda respiram, porque a água só lhes bate no queixo. Mas o canalizador está a trabalhar em sua casa... não queria incomodar...
– Parece que houve um engano. – disse eu. – Vou perguntar-lho, para ficar de imaculado coração. Falando verdade, os meus canos funcionam perfeitamente.