Ontem encontrei o livreto de Manuel Gusmão“Os Dias Levantados” (editado pela Caminho) na Biblioteca e resolvi trazê-lo para ler. Escolhi esta passagem de “As Casas Andantes” para a Ana:
O Homem Como é que uma rua entra numa casa?
E como é que as casas deitam p’rá rua?
A Primeira Mulher Sonham:
a rua ia dar ao mar.
A Segunda Mulher E depois, se fosse na minha terra,
era as ondas que tinhas que varrer.
Um Segundo Homem Vocês abusam. Vocês deitam as casas à rua.
Põem a rua dentro de casa.
O poder não pode estar na rua.
Coro Escrevam aí: uma casa é uma árvore
que abre e fecha a noite e o dia;
um bicho emplumado-andante;
um avião que faz uma nuvem no tecto;
uma rua que é o mar num jardim.
A Primeira Mulher Onde é que estão a escrever?
A Segunda Mulher Na Constituição.
A Primeira Mulher E o que é? É p’ra valer?
O Homem É uma construção civil.
O Segundo Homem Isso é o que ainda se verá.
Coro Escrevemos, agora: As casas andantes mudam
de lugar. E sob os seus pés
move-se o mundo
muito novo e muito antigo.