“Eu era de facto obrigado a descobrir alguma coisa que fizesse efeito, mais precisamente alguma coisa que nada tivesse de barulhento, quer dizer que não fosse dramática nem desenfreada, mas qualquer coisa simples como encher os cantos de gordura. E quando apliquei as primeiras manchas de gordura nos cantos (da sala)— às vezes, eram deste tamanho— as pessoas começaram imediatamente a berrar(...) Sim, pois bem, desculpem, mas tive apesar de tudo muita sorte, ou então fui realmente esperto ou realmente perspicaz. Eu tinha mais ou menos previsto que aqueles cantos cheios de gordura provocariam, suscitariam qualquer coisa, percebem e o certo é que funcionou. Então eu não disse: olha, um canto feito de gordura! Mas continuei logo, tentei explicar o porquê daqueles cantos cheios de gordura, dos cantos em geral e das outras acções com gordura, porque é que aqui não era num canto, porque é que ali havia simplesmente um bocado de gordura, porque é que ali tinha trabalhado com calor, porque é que a gordura escorre, porque é que aqui há um canto de sala cheio de gordura. Depois repus tudo no seu contexto e, acto contínuo, afirmei: é isto a verdadeira política, a alternativa ao marxismo. O que pôs as pessoas ainda mais furiosas e então a discussão atingiu o seu ponto máximo ”
Joseph Beuys, Volker Harlan, “Qu’est-ce que l’art?, L’Arche, Paris, 1992.