Quem é Mickey Sabbath? Philip Roth precisou de quase 500 páginas para o explicar e mesmo assim chegamos ao fim do livro cheios de dúvidas. Sabbath é um monstro? Dava jeito arrumá-lo desse modo, era uma limpeza, um descanso para a consciência. O problema é que ele não se deixa engavetar. Tem 64 anos e está por tudo. Anda a ajustar contas com a morte, com os seus mortos: Morty, o irmão, morto em combate nas Filipinas, tão novo que ele era e tão perfeito e no entanto morto; a mãe que o ensombra, morta de apatia; Nikki que desapareceu de repente — morta também ou terá fugido? — um eterno fantasma, uma Cordélia sem Shakespeare; Drenka, a amante luxuriosa, morta de cancro; Linc, esverdeado no seu caixão. Todos às voltas na cabeça de Sabbath, todos misturados, todos a dizerem que no fim não há nada, nada a esperar. Não há protecção nenhuma, nunca houve.
Podemo-nos agarrar às finezas do espírito, ao bem estar de uma vida acolchoada como Norman, ou regenerar como Roseanna, percorrendo as reuniões dos Alcoólicos Anónimos com fé, rezando orações. Podemos fingir e esquecer. Podemos?
Teatro de Sabbath | Philip Roth | Publicações Dom Quixote (2000)