No bolso levo as "Judicearias". Página 92, entrevista com Bernardo Pinto de Almeida [publicada no "Primeiro de Janeiro" de 25 de Maio de 1988]:
A exposição que você mostra agora na EMI reúne obras datadas desde 72, e creio que é a primeira vez que se mostram os «aquamotos»...
MC — O nome vem muito depois. Eu fazia aquelas coisas e depois descobria que era uma espécie de tremor de terra feito com água. Uma provocação e exploração de acasos.
Porque é que a exposição de chama O Navio de Espelhos?
MC — Isso foi uma ideia muito boa da Maria [Nobre Franco]. Mas um título desses é perigosíssimo porque é capaz de ser melhor do que qualquer exposição. Isso fez-me modificar a organização da exposição. Usei os quadros que podem funcionar como espelhos do tal navio que não há. Muitos estavam guardados lá em casa, outros eram mais recentes e tinham a ver com Moby Dick do Melville. Você leu? Aquilo é a grande Biblia moderna. É o maior livro que se escreveu sobre o mar. E então há títulos que vêm daí: eu inventei o espelhinho do capitão, os espelhos dos imediatos. Pareceu-me uma ideia bonita. E aproveitei e pus um Espelho do Raul Leal, cujo centenário o ano passado passou completamente despercebido, de tal modo anda tudo metido no Pessoa que é um poeta considerável, mas nós temos grandes poetas desde o século XII, pelo menos, senão de antes, e depois é como se não houvesse nenhum.
posted by Anónimo on 19:54