Um homem construíra uma máquina.
... Que faz o quê? disse o seu pai.
Que fica vermelha com a ferrugem se chover, não te parece, pai?
Mas uma máquina é o que rouba o trabalho a um homem, disse o pai, e o trabalho é oração, logo a máquina é um pecado.
Mas a máquina também pode ser amorosa, cultivando teias de aranha entre as rodas onde rastejam pequenas patas negras; e logo as ervas aparecem entre as engrenagens – E os seus raios adornados com borboletas...
Não gosto da máquina, mesmo se é amável, pois pode ainda decidir amar a minha mulher e apanhar o meu transporte para o trabalho, disse o pai.
Não não pai, é uma máquina voadora.
Bom, supõe que a máquina faz ninho no telhado e tem filhos máquinas? disse o pai.
Pai, se quisesses olhar para a máquina apenas umas horas irias aprender a amá-la, talvez até a dedicar-lhe a própria vida.
Eu não faria tal coisa, pelo menos com a tua mãe a ver, catalogando as minhas infidelidades para me confrontar com elas na cama... Talvez eu conseguisse simpatizar com esta humilde obra de ferro, pois que já me sinto motivado a assegurar-lhe que existe um Deus, sim, até para ti, querida máquina paciente. Mas a tua mãe vigia. Até a minha mãe vigia. Todas as mulheres da casa observam pelas janelas, esperando para ver o que farei.
Pai, observa o orvalho nas suas rodas, não te recorda lágrimas?
Irás destroçar o meu coração enquanto as mulheres vigiam, quase esperando que eu ceda? pois elas anseiam pela vítima que me seria amável entregar.
Então curva-te perante a máquina, pai, sê gentil com as mulheres como és gentil com a máquina.
Oh não, querido filho, não conseguiria curvar-me perante uma máquina; no fundo, sou humano. Deixa que outros abram portas novas da história...