É uma história de amor, vivida nas Índias, nos anos 30, numa cidade sobrepovoada nas margens do Ganges. São aqui evocados dois dias dessa história de amor. É a estação da monção no Verão.
Vozes (quatro, duas jovens mulheres, de um lado, e duas vozes masculinas, de outro) - sem rosto - falam desta história. As vozes não se dirigem ao espectador ou ao leitor. São totalmente autónomas. Falam entre elas. Não sabem ser escutadas.
A história deste amor, as vozes souberam-na ou leram-na, há muito tempo. Algumas lembram-se melhor do que outras. Mas nenhuma se lembra de todo e nenhuma a esqueceu.
Em momento algum sabemos quem são estas vozes. No entanto pela forma como, cada uma delas, se lembra ou se esqueceu, elas dão-se a conhecer mais do que pela sua identificação.
A história é uma história de amor imobilizada no culminar da paixão. À volta dela, uma outra história, a do horror - fome e lepra coladas na humidade pestilenta da monção - imobilizada ela também num paroxismo quotidiano.
A mulher, Anne-Marie Stretter, mulher do embaixador de França nas Índias, agora morta - a sua campa está no cemitério inglês de Calcutá - como que nasceu deste horror. Ela está no meio dele com uma graça em que tudo se abisma num silêncio inexaurível. Graça que as vozes tentam precisamente rever, porosa, perigosa, perigosa também para algumas vozes.
Ao lado desta mulher, na mesma cidade, um homem, o vice-cônsul de França em Lahore, caído em desgraça em Calcutá. Ele é pela cólera e pelo assassínio que se aproxima do horror indiano.
Uma recepção na embaixada de França tem lugar - durante a qual o vice-cônsul maldito gritara o seu amor a Anne-Marie Stretter. Perante uma Índia branca que olha.
Depois da recepção, ela vai para as ilhas pelos caminhos direitos do delta.