A janela estava aberta. Deste lado, já só resistem as magnólias que não são brancas, ainda que neve. Do outro lado, a uma distância audível, uma valsa ou o tempo em cadência circular. Entro, por estas condições necessárias. Com os dois pés dentro da casa, não me prendo aos pormenores empíricos. Às estátuas sobram-lhes gestos e isso basta-me para não acreditar. Se ainda respiro, passo de uma sala para outra sala como de metáfora em metáfora – em diminuendos – e permito-me sentir, penduradas em cordéis puxados pela infância que não inventámos, as máscaras que me acompanham. Deambulamos juntas, se ainda respiro. Como se a solidão pudesse ser coisa, pedra, ar. Ou um livro aberto esquecido numa página qualquer.
a casa não tem fim
se ainda respiro
Num outro plano: «Move-se como uma personagem de India Song», ouço alguém a provocar-me.