Estou neste espaço como um ladrão. Apercebo-me agora de que é um espaço feminino. As cores de fundo, o tipo de letra, a formatação do espaço. Uma casa que as mulheres abandonaram. Uma prisão de homens decorada por mulheres que se ausentaram. No início estava a Sandra a receber. Agora não vejo ninguém. Aquele empregado de escritório do conto de Melville não existe, como era previsível. Tudo o que há em redor são botins femininos como os que Walser tanto gostava, livros, quadros, tapetes, roteiros de viagens. Se me mexo é quase certo que alguma coisa se vai partir. Vou sair daqui, devagarinho. Caminhar na neve. Longamente. Até que o dia nasça.
posted by Anónimo on 01:20