Em outros tempos chegavam à ponte das candeias multidões
em penitência suplicando graças
para os soldados da guerra, as histórias de amor,
as doenças, para ganhar dinheiro, juventude,
para desejos secretos, por exemplo muitos homens
desentendiam-se com a sua gaita,
se lhe diziam: preparada? Ela respondia: não!
Bastava cruzar a ponte com uma vela acesa
que não podia apagar-se até à cruz do moinho.
Mas o vento soprava, uma brisa descia
da montanha e as mãos fatigavam-se
de tanto proteger a chama e então toca a tentar,
tentar de novo, um mês, um ano…
A uma velha quase a chegar ao fim
pegou-se-lhe fogo à roupa e lá se foi tudo, roupa, tempo e feitio.
Desde essa desgraça os crentes
abandonaram a devoção e mais ninguém lá vai.
No passado domingo dei uma espreitadela à ponte
e vi o filho tolo de Filomena
com uma vela acesa na mão.
A chama estava firme e nem a brisa do fundo
do rio a movia. Qual será a graça que suplica?
Uma vida normal ou continuar a sua loucura?
Antes de chegar à cruz do moinho
logo ali, a dois passos, parou
e soprou sobre o lume.