não se queixe do engano quem pela amostra compra o pano...
Artemidoro de Daldis, oriundo de Éfeso, na Ásia Menor, redigiu um curiosíssimo tratado de interpretação dos sonhos. A obra, composta por cinco livros, é tanto mais interessante quanto rara pois foi redigida em meados do século II da nossa era. Alvo de várias edições no mundo romano, esteve desaparecida e veio a ser reeditada em finais do século XV graças à acção do grande mecenas Lourenço o Magnífico, de cuja versão existem publicações modernas a partir de 1970 (ver ed Akal, 1999).
Aqui fica um exemplo dessa hermética arte da onirocrítica que de tão certeira até dá para se dizer que nem Freud foi tão longe...
“ acerca dos que sonham com loucura e estado de embriagues”
Estar louco resulta favorável para os que iniciam um projecto, pois em qualquer assunto que empreendam não é possível deter os loucos. Sobretudo, é propício este sonho para os que querem ser demagogos, governar as massas e para os que aparecem em público, pois obtêm maior acolhimento. Também é proveitoso para os que querem dedicar-se ao ensino, posto que os jovens tendem a seguir os dementes. Assinala também que os pobres estarão melhor providos de bens, porque o louco recebe de toda a parte. Anuncia saúde para o enfermo, porque a loucura incita a mover-se, ir de uma lado para o outro e a não estar prostrado como os doentes.
Estar embriagado não é positivo, nem para o homem nem para a mulher, pois é sintoma de uma grande insensatez e obstáculo aos seus empreendimentos; certamente que a embriagues é a causa destes significados. No entanto, embriagar-se é um bom sintoma para os temerários, pois os ébrios são indiferentes a tudo e não têm medo.