Ah Jean Dubuffet
quando se pensa nele
cumprindo o serviço militar na Torre Eiffel
como meteorologista
em 1922
compreende-se como pode ser maravilhoso
o século 20
e os imponentes Iroqueses nos carris
altivos e a pé firme
nus como seria de esperar
ligeiramente etéreos
como um Sonia Delaunay
há uma parábola de velocidade
algures atrás dos olhos dos Índios
inventaram o século com os seus cavalos
e as suas costas frágeis
que são escuras
estamos em dívida com os Iroqueses
e com Duke Ellington
por tocar nos edifícios em construção
nós fazemos pouco
a não ser foder e pensar
no Metro obsessivo
e naquele que ali não apareceu
enquanto aguardávamos por pertencer ao nosso século
tal como não se pode fazer um chapéu de aço
e depois usá-lo
de qualquer forma quem usa chapéu
é costume da nossa tribo
enganar
como te sentes no velho Setembro
sinto-me como um camião em auto-estrada molhada
como podes
foste feito à imagem de Deus
eu não fui
fui feito à imagem de um camionista maricas
e Jean Dubuffet pintando as suas vacas
«com uma semelhança que irrompeu na memória»
aparte o amor (não fales nele)
estou envergonhado do meu século
por ser tão espectacular
mas tenho de sorrir
Frank O' Hara, "vinte e cinco poemas à hora do almoço"
tradução de José Alberto Oliveira, edição Assírio & Alvim
posted by Anónimo on 22:50