terça-feira, fevereiro 24, 2004
Garantiram-me que não haveria censura. Chegou a altura de aproveitar esta vasta tribuna para denunciar aquilo de que muitas pessoas de bem já suspeitariam. Existe uma conspiração, baseada em Lisboa (mas com ramificações por todo o continente e ilhas), de proporções gigantescas, capaz de mover cordelinhos com uma facilidade aterradora, nas mais importantes esferas do estado.
Os sinais estão por toda a parte. Será necessário enumerá-los? Um jogador de vermelhinha traz consigo para toda a parte um livro de Apollinaire. Acham isto normal? As nódoas de sumo de romã limitam-se às páginas com número primo, o que é também sintomático. O facto de um batoteiro de rua preferir Apollinaire a Breton é, no mínimo, suspeito.
No Príncipe Real, na Estrela, no Restelo, bastam algumas notas assobiadas para reduzir os agentes da autoridade à mais absoluta submissão.
Os distribuidores de folhetos de publicidade só tocam para as casas das pessoas em instantes bem definidos, prenhes de significado. Se estiver a ocorrer uma audição da "Paixão segundo São Mateus", a interrupção ocorrerá invariavelmente no meio de "So is mein Jesus nun gefangen". E querem-nos convencer de que é coincidência!
Vivemos submersos por lendas urbanas. Com o tempo, o nosso sentido da urgência embota-se. Mas nem tudo o que parece demasiado sinistro e grandguignolesco para ser verdadeiro é fictício. Ignorem isto por vossa conta e risco.
posted by aa on 12:20