domingo, janeiro 11, 2004
só o sangue cheira sangue…
Pó cheira a raio de sol,
mel bravo à liberdade,
boca de moça à violeta,
e o ouro não cheira a nada.
A reseda cheira à água,
amor à maçã rescende,
mas agora já sabemos –
só o sangue cheira sangue…
Em vão o pretor romano
se lavava as palmas grossas
sob os gritos da plebe.
E a raínha da Escócia
debalde raspava as gotas
vermelhas da mão esguia
na penumbra sufocante
da real moradia.
Anna Akhmátova, 1943
“Só sangue cheira a sangue”, tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra, edição da Assírio & Alvim