Esta fotografia já passou por aqui mais do que uma vez mas na última quinta-feira, logo no começo do filme – A Falha, de João Mário Grilo na 2 –, a câmara fazia uma panorâmica pela sala e lá estava ela de novo e depois do filme visto achei que a fotografia já contava a história toda e é esta a razão de voltar a Gérard Castello Lopes.
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Jorge P. Pires (Expresso, 29.01.2000) – Ao mesmo tempo, essa sua famosa fotografia da pedra também é uma expressão do seu gosto pela arte do paradoxo.
Gérard Castelo Lopes – O meu olhar tem hoje uma liberdade que não tinha, e eu precisava de formular uma ideologia fotográfica, um esquema, um plano - dizer que a realidade não é aquilo que vemos. Tenho portanto esta ideia de que é possível que as aparências iludam, que o avião no ar vai parado, que as coisas ao longe são realmente pequenas e não grandes como sabemos. E, se eu fotografasse a cores, que as montanhas não são sempre verdes ou castanhas - por vezes são azuis ou violetas. Mas a gente já não vê a cor do mar, porque sabe que o mar é azul. A realidade que a maior parte das pessoas vêem é filtrada pelo nome que damos às coisas. E o nome estraga a pureza, a inocência do olhar. É esta espécie de inocência do olhar - que eu não tenho, mas que ando sempre a tentar apanhar - que dá algum sentido ao que vou fazendo.