quarta-feira, janeiro 14, 2004
Miss Amélia amava o primo Lymon
«Era uma coisa evidente aos olhos de toda a gente. Viviam na mesma casa, juntos, e nunca se separavam. Por conseguinte, e segundo Mrs. MacPhail, uma velha metediça com o nariz coberto de verrugas e que nunca estava quieta, e algumas outras, aqueles dois viviam em pecado. Se eram parentes, tratava-se de parentesco afastado e mesmo isso não havia maneira de se provar. Ora, Miss Amélia, com mais de seis pés de altura, era uma pessoa desajeitada e o primo Lymon um anão que mal lhe chegava à cintura. Mas tanto melhor para Mrs. MacPhail e suas comadres, gente que se regozija com ligações discordantes e mais dignas de dó que doutra coisa. Assim seja. Os sem-malícia, por seu lado, pensavam que, se os dois extraíam prazer físico um do outro, era assunto que só dizia respeito aos próprios e a Deus. Mas todas as pessoas sensatas concordavam - e a sua posição era clara - que não era esse o caso. De que natureza era, então, este amor?
Em primeiro lugar, é uma experiência a dois, mas isso não quer dizer que seja a mesma coisa para cada um. Há o que ama e o que é amado, e estes dois eram diferentes como o dia da noite. (...)»