As migrações que o historiador, guiado pelas incertas relíquias da cerâmica e do bronze, deseja fixar no mapa e que os povos que as realizaram não compreenderam.
As divindades da madrugada que não me deixaram nem um ídolo nem um símbolo.
O sulco do arado de Caim.
A geada na erva do Paraíso.
Os hexagramas que um imperador descobriu na carapaça de uma das tartarugas sagradas.
As águas que não sabem que são o Ganges.
O peso de uma rosa em Persépolis.
O peso de uma rosa em Bengala.
Os rostos postos por uma máscara guardada numa vitrina.
O nome da espada de Hengist.
O último sonho de Shakespeare.
A pena que traçou o curioso verso: He met the Nightmare and her name he told.
O primeiro espelho, o primeiro hexâmetro.
As páginas que um homem pardo leu e que lhe revelaram que podia ser D. Quixote.
Um ocaso cujo vermelho perdura num vaso de Creta.
Os brinquedos de uma criança que se chamava Tibério Graco.
O anel de ouro de Polícrates que o Fado recusou.
Não há uma única dessas coisas perdidas que não projecte agora uma vasta sombra e que não determine o que fazes hoje ou o que farás amanhã.