sexta-feira, novembro 07, 2003
one plus one makes two
1.
A sala estava cheia, como já é hábito às quartas-feiras. Distraí-me e não ouvi tudo o que o arquitecto Luís Tavares Pereira disse mas creio que ele não chegou a explicar muito bem porque é que tinha escolhido aqueles dois filmes, o que é que o “one + one” tem a ver com o Peter Eisenman? Hei-de lá chegar…
2.
Seguiu-se o documentário. Apesar de não gostar muito dos edifícios do Eisenman fiquei fascinada com este arquitecto bem humorado e irónico. Logo ao princípio ele pergunta se a função simbólica da arquitectura já passou, se há meios que veiculam melhor a informação, então, o que resta à arquitectura? “Não sei”, disse ele, “não sei, respondam vocês”.
3.
Depois do intervalo, ouvem-se os primeiros acordes de “Sympathy for the devil”. O filme é desconcertante. Por um lado os Rolling Stones a construirem a música, aproximando-se de ritmos cada vez mais corporais, as percusões cada vez melhores, o diabo à solta? Talvez. Do outro, a rua ou melhor, a revolução na rua, ou melhor ainda, a impossibilidade da revolução. Pelo meio, Godard diz-nos que um mais um faz dois e vai adicionando: freudemocracy, cinemarx, sovietcong. A jovem bucólica entrevistada na floresta responde apenas sim ou não, porque o jornalista já diz tudo (a minha cena preferida, tão godardiana). Uma rapariga pinta palavras com um spray onde pode e não deve. O que é que nos resta? O futuro da arte? Da cultura? Uma destrói a outra? A supremacia do poder e da violência?
São muitas perguntas e a sala não está para isto, vai-se esvaziando. Perdem a melhor versão de “sympathy” e a cena na praia com a inocente massacrada a ser içada por uma grua de cinema entre duas bandeiras (uma vermelha e outra preta) e a câmara. Cinema de guerrilha, claro. Ao modo de Godard, sem luz ao fundo da revolução.