Apetece-me partilhar um poema. Está lido e relido, mas como os poemas não se gastam..., isto foi o que disse a Sara Figueiredo Costa que nos enviou este poema.
Nós lemos e agradecemos.
Livros
O tempo cumpriu as promessas que nos fez
e o dia já não é corrigido pela música:
estas casas não terminam em nenhum jardim,
estão viradas de frente para o inverno, a nossa
direcção. Mas não deixa de ser estranho
reler agora os livros de que gostávamos, os livros
que não podíamos compreender ainda:
enchemos com eles as estantes do futuro,
para o dia em que não poderíamos suportá-los,
de tão próximos. A bela geometria das superfícies
não pode continuar a distrair-nos de tudo
o que nos atormenta: a vida é isto, esta imensa
e inútil espera, e os livros afinal
jamais nos ensinaram outra coisa.
Rui Pires Cabral, "Praças e Quintais"
Lisboa, Averno, 2003